Tradutória

Reflexões sobre a Tradução. Confira aqui dicas sobre livros, internet, dicionários, tudo para ajudar o tradutor e um pouco de literatura em geral.

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segunda-feira, maio 23, 2005


[1:15 PM]

CAPACIDADES E HABILIDADES DO TRADUTOR
Fonte:A Empregabilidade do tradutor: um breve levantamento de questões
Adail Sobral

A. Em primeiro lugar, o tradutor deve ter o máximo de conhecimento das possibilidades expressivas de sua língua, ou seja, mais do que a gramática - que é uma das maneiras fundamentais de descrição e prescrição em termos da língua, mas não a única. Conhecimento das funções dos elementos de que trata a gramática e de que tratam os estudos de textos. Familiaridade com os vários modos de expressão que circulam na sociedade, incluindo as especificidades dos vários tipos de leitores e dos vários tipos de textos: jornalísticos, acadêmicos, "mundanos" etc. A gramática não dá conta do texto, nem o pode pretender, porque só vai até a frase, mas o texto não pode prescindir dela, porque as frases estão presentes nele, ainda que organizadas de uma maneira que vai além da gramática frasal, num plano que se poderia chamar, se se quiser, de gramática do texto.

Se privilegiar a gramática pode levar ao enrijecimento, desprezá-la produz dificuldades mil, entre as quais construções de difícil entendimento, ilógicas e mesmo construções totalmente incompreensíveis, cópias de estruturas das línguas de que se traduz que nada têm que ver com a da língua para a qual se traduz (por exemplo, "veneno para matar baratas de seis quilos"). Importa mais a função do que a definição, importa mais entender como funcionam os elementos e possibilidades da língua do que saber a designação que a gramática ou alguma teoria lhes dá - importa mais, porém não exclusivamente! Isso é vital também para negociar com os clientes, empregadores etc. Sem essa base, não se pode ser bom tradutor nem se defender de absurdos.

B. Conhecimento de textos em geral, de avisos na rua à literatura mais culta, passando por jornais e revistas; muitas leituras e variadas; conhecimento de terminologias específicas das áreas a que queira dedicar-se; conhecimento geral; curiosidade intelectual. O tradutor é um especialista em textos, escritos e falados, e tudo o que lê e ouve serve de material para suas traduções. É preciso desenvolver a capacidade de ser fiel ao original sem violar a língua para a qual se traduz, adaptar o original a um público leitor que não é o do original e que de resto o autor sequer conhece, sem com isso alterar o texto original nem perder sua especificidade ou violentar a língua para a qual se traduz. Esse é o grande desafio da tradução, bem mais difícil do que escrever um texto já de início voltado para um dado público.

C. Conhecimento de mundo, cultura geral, conhecimento de expressões artísticas em geral; de recursos auxiliares como dicionários, enciclopédias (sempre, é claro, sem tomá-los como autoridade incontestável); memórias de tradução, programas de tradução dita automática, procedimentos de tratamento de corpora lingüísticos. Conhecimento de descrições teóricas do processo de tradução. Capacidade de fazer buscas eficazes na Internet. Conhecimento de diversos programas de computador: processadores de texto, de planilhas, de apresentações, PDF, etc. A pesquisa e a capacidade de usar recursos é cada vez mais importante na tradução. Além de criar mercado, facilita as tarefas do tradutor, embora haja problemas outros a considerar quanto a isso.

D. Conhecimento da língua da qual pretende traduzir. Ler sempre os mais diversos tipos de textos e acompanhar as mudanças pelas quais a língua passa. Se possível, conhecer mais de uma língua estrangeira, porque isso ajuda a ampliar os horizontes e facilita recorrer a essas línguas para resolver casos difíceis do par em que o tradutor se concentra. O desconhecimento da língua para a qual se traduz leva a afirmações como a de um tradutor conhecido (e não vou dizer o nome!) para quem traduzir do português para outra língua é ruim porque a língua em questão não tem opções! Isto é confundir o conhecimento que se tem da língua em questão com a própria língua.

E. Contato com colegas por meio de listas, palestras, cursos, debates, congressos etc. Contato tanto com colegas da área (humanas, exatas, técnicos etc.) como de outras áreas. Esse contato serve para evitar o isolamento, levar ao aprimoramento, ser ajudado e ajudar a resolver problemas de tradução e inclusive para conhecer agências de tradução inidôneas, editores que não cuidam da qualidade ou que enfatizam certos aspectos e negligenciam outros, além de ser a base para uma futura criação da categoria tradutor, organizada, para enfrentar com mais força a muitíssimo bem organizada classe dos empregadores. Outro benefício é evitar a ingenuidade por meio do conhecimento das experiências alheias.


Postado por Jim |
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